segunda-feira, 24 de setembro de 2007

CRAVETE X CARCEL – BONS TEMPOS AQUELES


No antigo e saudoso pradinho dos Moinhos de Vento, lá pelo fim da década de 40, dois cavalos se destacaram, ganhando fãs entusiasmados, que discutiam qual era o melhor. Cravete ou Carcel? Cravete teve uma história curiosa, que lembra a de L`Amico Steve, recente ganhador do GP Brasil. Ele também começou correndo pouco e só aos 4 anos é que se começou a vislumbrar o craque que viria a ser. Cravete pertencia a Amália Carvalho, viúva de Gaspar Carvalho, que o criou em seu haras, no município de Uruguaiana. Era treinado por "Don" Camilo Iberra, nascido no Uruguai. O filho de Crater e Blindada não era um cavalo veloz, mas era parelho e com um fôlego fantástico. Ganhava todas. Mais jovem, o pelotense Carcel, fora criado pelos sucessores de Francisco Caruccio, no Haras Santa Bárbara, situado nos arredores da "Princesa do Sul". Filho de New Year e Marl, era um alazão veloz e resistente. Também ganhava todas. Diante desse quadro, era natural a expectativa que despertava o embate que os dois craques iriam travar. Cravete, pilotado por Ganganelli Cunha, o "Gigante" e Carcel, obedecendo ao guante de Carlos Netto, o emotivo "Netinho". Consta que Netinho chorou ao ser derrotado pelo pilotado de Gigante, numa carreira emocionante. Sentindo que o inimigo, Carcel, corria na frente, Gigante obrigou o filho de Crater a sair de seu ritmo natural, indo para cima do rival. Num mano a mano de arrepiar os cabelos, prevaleceu no final a vitória de Cravete. No GP Bento Gonçalves, a revanche tão esperada pelos carcelistas. Mas desta feita não restaram dúvidas, Cravete já correu na ponta, surpreendendo a todos e ganhou por vários corpos. Os adeptos do alazão treinado por Carlos Gasparini, nem assim se conformaram. Carcel estaria num dia ruim, por isso a derrota contundente. Pelo sim, pelo não, o certo é que foram dois grandes cavalos. Sua presença na pista lotava o prado dos Moinhos de Vento que se enchia de torcedores, mais do que apostadores, apaixonados pelo turfe e seus craques. Histórias assim, fazem a grandeza do outrora Esporte dos Reis, mas que de fato sempre foi uma paixão popular. Relembrá-las é reviver uma época gloriosa, em que o Jockey Club do RGS financiava a construção do colosso chamado Hipódromo do Cristal, exclusivamente com o resultado das apostas. A inauguração do novo hipódromo só se daria 10 anos depois, no final de 1959. Hoje, os tempos são outros. O turfe sofre concorrência de todos os lados, abandonado pela imprensa. Vivemos uma crise, da qual só sairemos contando com a colaboração de todos os que amam a atividade e, se e quando, os dirigentes das principais entidades turfísticas resolverem deixar de lado suas diferenças e partirem unidos a Brasília, em busca de uma solução que, necessariamente, passa por uma legislação que, para variar, proteja o turfe. Afinal, eles fizeram o Timemania para proteger o futebol. Por que o turfe ficar de fora?

2 comentários:

Orlando Bona Filho (bona@bona.pro.br) disse...

Muito interessante esta matéria. Como neto de Don Camilo, cresci ouvindo histórias do Cravete. Não conheci meu avô, mas as histórias desta legenda do turfe gaúcho, pelo que vejo, permanecem.

Jair Ferreira disse...

A história é interessante, mas contém um erro. Os dois cavalos só se enfrentaram realmente duas vezes, mas com uma vitória para cada um: em fins de 1949, no GP Comparação, Carcel, então com 3 anos venceu por 2 corpos no tempo de 143s para os 2200m, recorde que só foi batido em 1958 por Estensoro. A revanche veio no GP Bento Gonçalves de 1950, com Cravete vencendo por 5 corpos, em 210s4/5 para os 3200m, recorde que perdurou até 1954. Carcel estava invicto até então. Houve mais um páreo em que ambos estavam inscritos; Carcel chegou na frente, mas sem o jóquei, que caiu no início da corrida. O vencedor do páreo foi Cravete. A história dos dois é invertida: Carcel foi imbatível até os 4 anos. Depois da derrota para Cravete no "Bento" de 1950, teve campanha irregular, com vitórias e fracassos. Cravete foi corredor médio até os 4 anos. Depois da derrota para Carcel, correu 12 páreos vencendo todos, inclusive dois "Bentos" e estabelecendo 3 recordes (1600m, 2500m e 3200m). Na comparação, Cravete foi bem superior. Abração. Jair Ferreira